Anneliese Michel nasceu em Leiblfing, no estado federal alemão da Baviera, mas foi criada com as suas três irmãs no pequeno município de Klingenberg am Main. Seus pais, Anna e Josef Michel, muito religiosos, lhe deram uma educação profundamente católica. O pai de Anneliese mantinha a família trabalhando em uma serraria. Quando tinha dezesseis anos, Anneliese sofreu uma grave convulsão e foi diagnosticada com epilepsia. Logo, ela também começou a alucinar enquanto rezava. Em 1973, ela sofria de depressão e começou a ouvir vozes dizendo que diziam que ela estava "condenada" e que iria "apodrecer no inferno".
Em 1973, Anneliese estava sofrendo de depressão e considerando o suicídio. O seu comportamento tornou-se cada vez mais bizarro. Ela andava nua
pela casa, fazia suas necessidades em qualquer lugar, rasgava suas
roupas, comia insetos como moscas e aranhas, carvão e chegou a lamber sua própria urina.
TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO
Depois de ser admitida em um hospital psiquiátrico a saúde de Anneliese não melhorou. Além disso, sua depressão começou a
se aprofundar. Ela começou a ficar cada vez mais frustrada com a
intervenção médica, que não melhorava a sua condição. Em longo termo, o
tratamento médico não foi bem sucedido, seu estado, incluindo a sua
depressão, agravaram-se com o tempo.
Tendo centrado toda a sua vida em torno da fé católica, Anneliese começou a atribuir sua condição psiquiátrica à possessão demoníaca. Anneliese tornou-se intolerante à lugares e objetos sagrados, como cricifixos,
que contribuiu ao que achavam ser possessão demoníaca. Ao longo do
curso dos ritos religiosos Anneliese sofreu muito. Foram prescritos a
ela medicamentos antipsicóticos, que ela pode ou não ter parado de tomar.
Em junho de 1970, Anneliese sofreu uma terceira convulsão no hospital psiquiátrico, neste momento foi prescrito pela primeira vez anticonvulsionantes.
O nome desta droga não é conhecido e não trouxe alívio imediato aos
sintomas de Anneliese. Ela continuou falando sobre o que ela chamou de
"faces do diabo", vistas por ela durante vários momentos do dia.
Anneliese ficou convencida de que a medicina convencional era de nenhuma
ajuda. Acreditando cada vez mais que sua doença era um tipo de
distúrbio espiritual, ela recorreu à Igreja para que a exorcisassem. Naquele mesmo mês, lhe foi prescrita uma outra droga, Aolept ( prericyazine), que é uma fenotiazina com propriedades gerais semelhantes às da clorpromazina: pericyazine é usado no tratamento de psicoses diversas, incluindo esquizofrenia e distúrbios de comportamento.
Em novembro de 1973, Anneliese iniciou o tratamento com Tegretol (carabamazepina), que é uma droga antiepiléptica. Anneliese tomou o medicamento com frequência, até pouco antes de sua morte.
EXORCISMO E MORTE
Anneliese fez uma peregrinação a San Damiano
com um bom amigo da família, Thea Hein, que regularmente organizava
peregrinações para "lugares santos" não reconhecidos oficialmente pela Igreja Católica
Como Anneliese era incapaz de passar por um crucifixo e se recusava
beber a água de uma nascente sagrada, seu acompanhante concluiu que ela
estava sofrendo de possessão demoníaca.
Tanto Anneliese quanto sua família se convenceram de que ela estava
realmente possuída e consultaram vários sacerdotes, pedindo um exorcismo.
Os sacerdotes se recusaram, recomendaram a continuação do tratamento
médico e informaram à família que para a realização de exorcismo era
necessária a permissão de um bispo.
Eventualmente, em uma cidade próxima, se depararam com vigário Ernst
Alt, que, depois de ver Anneliese, declarou que ela não "parecia uma
epiléptica" e que ele não a via tendo convulsões. Ele acreditava que a menina estava sofrendo uma possessão demoníaca.
Alt pediu ao bispo para permitir um exorcismo. Em setembro de 1975, o
bispo Josef Stangl concedeu uma permissão ao Padre Renz para exorcizar
Anneliese de acordo com o Rituale Romanum de 1614, mas ordenou total sigilo sobre o caso. Renz realizara a primeira sessão em 24 de setembro.
Uma vez convencidos de sua possessão, Anneliese, seus pais e os
exorcistas pararam de procurar tratamento médico e colocoram seu destino
nas mãos apenas dos ritos de exorcismo. Sessenta e sete sessões de
exorcismo, uma ou duas por semanas, com duração de até quatro horas,
foram realizadas durante cerca de 10 meses em 1975 e 1976. Em algum
momento, Michel começou a falar cada vez mais sobre a morte para expiar a
juventude rebelde do dia e os padres apóstatas da igreja moderna e se recusou a comer. A pedido da própria Anneliese, os médicos não estavam mais sendo consultados.
Em 1 de julho de 1976, Anneliese morreu durante o sono. O relatório da autópsia indicou a causa da morte foi desnutrição e desitratação de quase um ano de semi-inanição, enquanto os ritos de exorcismo eram realizadas
JULGAMENTO
Logo após o falecimento de Anneliese, os padres Ernest Alt e Arnold
Renz fizeram o comunicado do óbito às autoridades locais que,
imediatamente, abriram inquérito e procederam às investigações
preliminares.
Os promotores públicos responsabilizaram os dois padres e os pais de
Anneliese de homicídio causado por negligência médica. O bispo Josef
Stangl, embora tivesse dado a autorização para o exorcismo, não foi
indiciado pela promotoria em virtude de sua idade avançada e seu estado
de saúde debilitado, vindo a falecer em 1979. Josef Stangl foi quem consagrou bispo o padre Joseph Ratzinger, que no futuro se tornaria o Papa Bento XVI.
O julgamento do processo, que passou a ser denominado como o Caso Klingenberg (em alemão: Fall Klingenberg), iniciou-se em 30 de março de 1978 e despertou grande interesse da opinião pública alemã. Perante o
tribunal, os médicos afirmaram que a jovem não estava possuída, muito
embora o Dr. Richard Roth, ao qual foi solicitado auxílio médico pelo
padre Ernest Alt, teria feito a afirmação à época que não havia
medicação eficaz contra a ação de forças demoníacas (cfe. fonte
original: "there is no injection against the devil").
Os médicos psiquiatras, que prestaram depoimento, afirmaram que os
padres tinham incorrido inadvertidamente em "indução doutrinária" em
razão dos ritos, o que havia reforçado o estado psicótico da jovem, e
que, se ela tivesse sido encaminhada ao hospital e forçada a se
alimentar, o seu falecimento não teria ocorrido.
A defesa judicial dos padres foi feita por advogados contratados pela
Igreja. A defesa dos pais de Anneliese argumentou que o exorcismo tinha
sido ato lícito e que a Constituição Alemã protege os seus cidadãos no exercício irrestrito de suas crenças religiosas.
A defesa também recorreu ao conteúdo das fitas gravadas durante as
sessões de exorcismo, que foram apresentadas ao tribunal de justiça,
onde, por diversas vezes, as vozes e os diálogos — muitas vezes
perturbadores — dos supostos demônios eram perfeitamente audíveis. Em
uma das fitas é possível discernir vozes masculinas de dois supostos
demônios discutindo entre si qual deles teria de deixar primeiro o corpo
de Anneliese. Ambos os padres demonstraram profunda convicção de que
ela estava verdadeiramente possessa e que teria sido finalmente
libertada pelo exorcismo, um pouco antes da sua morte.
Ao fim do processo, os pais de Anneliese e os dois padres foram
considerados culpados de negligência médica e foi determinada uma
sentença de seis meses com liberdade condicional sob fiança.
EXUMAÇÃO
Antes do início do processo, os pais de Anneliese solicitaram às
autoridades locais uma permissão para exumar os restos mortais de sua
filha. Eles fizeram esta solicitação em virtude de terem recebido uma
mensagem de uma freira carmelita do distrito de Allgäu, no sudoeste da Baviera. A freira relatou aos pais da jovem que teria tido uma visão na qual o corpo de Anneliese ainda estaria intacto ou incorrupto
e que esta seria a prova definitiva do caráter sobrenatural dos fatos
ocorridos. O motivo oficial que foi dado às autoridades foi o de que
Annieliese tinha sido sepultada às pressas em um sarcófago precário.
Os relatórios oficiais, entretanto, divulgaram a informação que o
corpo já estava em avançado estado de decomposição. As fotos que foram
tiradas durante a exumação jamais foram divulgadas. Várias pessoas
chegaram a especular que os exumadores moveram o corpo de Anneliese do
antigo sarcófago para o novo, feito de carvalho,
segurando-o pelas mãos e pernas, o que seria um indício de que o corpo
não estaria na realidade muito decomposto. Os pais e os padres
exorcistas foram desencorajados a ver os restos mortais de Anneliese. O
padre Arnold Renz mais tarde afirmou que teria sido inclusive advertido a
não entrar no mortuário
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